segunda-feira, 18 de maio de 2009

CURRÍCULO OCULTO OU CONVENIÊNCIA EXPLÍCITA?

É quase inacreditável constatar, por meio de conversas informais com professores de diversas áreas, que não se sabe o que é o chamado Currículo Oculto. Mais ainda quando leva-se em conta que, cotidianamente, ensina-se lançando mão deste currículo oculto, sem a preocupação (ignorância) em policiar-se no que se transmite aos alunos, sejam estes das séries iniciais, sejam universitários ou ainda de níveis mais avançados.

Tudo o que um professor transmite a um aluno, seja por opiniões expressas, seja por simples gestos, olhares, tudo, enfim, que não faça parte das matrizes curriculares propostas para cada curso, é seu currículo oculto, que se transmite sem perceber.

Inacreditável também é saber que intelectuais renomados nacional e internacionalmente ignoram, propositadamente ou não, a existência de tal componente educacional. Quanta controvérsia!

Sabemos todos que os ditos intelectuais são os grandes sábios e sabedores que, justamente por isso, colocam, e muitas vezes impõem, seus pontos de vista a respeito dos assuntos diversos que tomam parte de nossas vidas. Suas opiniões são, no mínimo, ouvidas com muita atenção. Influem e influenciam no cotidiano das pessoas e, o que pode ser até perigoso, viram “bíblia” para seus seguidores.

Na abertura do seminário “O Silêncio dos Intelectuais”, há poucos anos, a intelectual Marilena Chauí, ícone da filosofia no Brasil, filiada do PT, quando indagada a se pronunciar sobre a lama na qual se encontrava seu partido, disse que não tinha informações suficientes para se pronunciar a respeito do assunto. “Os meios de comunicação seguem a lógica da sociedade do espetáculo, e são pautados pelos ideólogos tucanos, que se dizem os únicos respeitáveis e competentes do país”, disparou a filósofa. Disse ainda que a culpa da atual situação política no país não era do PT, e sim do sistema político brasileiro.

Agora imaginemos a ilustre professora da Universidade de São Paulo proferindo uma palestra a seus alunos. Quanta coisa se joga na cabeça das pessoas apoiando-se no título de intelectual!

Celso Ferrarezi Junior, Doutor em Lingüística e professor da Universidade Federal de Rondônia, satiriza tal situação com a seguinte frase: “Ser Doutor em alguma coisa é ter a aprovação da academia e da sociedade para dizer suas próprias besteiras”. Ele ilustra com isso a responsabilidade que os intelectuais têm em seus pronunciamentos, pois até que se prove o contrário – e some-se a isso o ônus da prova – o que foi dito é lei.

Os intelectuais são justamente “aqueles que usam seu saber e prestígio para esclarecer a opinião pública e combater o obscurantismo”, afirma João Gabriel de Lima, da revista Veja. Então, como acreditar na afirmação de Marilena Chaui, quando diz que não tem informação o bastante para se pronunciar sobre problemas de seu partido? Curioso é que ela, no mesmo discurso, alfineta os tucanos e joga a brasa incandescente para longe de seus pés. Ora, só não tem informações suficientes para comentar sobre seus amigos e “companheiros”? Muito conveniente!

Durante a campanha para o segundo turno em 2010, quando indagada sobre sua opinião sobre o aborto, a “ilusPTríssima” e ex-sexóloga Marta Suplicy soltou uma frase sensacional: “Nem que a vaca tussa eu falo o que eu penso sobre isso!”

Em tempo, concordo com a afirmação sobre os tucanos. Acho até que ela se esqueceu de comentar sobre a demagogia exagerada no discurso de alguns deles, como o Senador Arthur Virgilio do Estado do Amazonas. É claro que toda generalização é burra e que existe muita gente séria no PSDB, assim como em qualquer outro partido, inclusive no PT, mas mais fácil do que se olhar no espelho é colocar a cara na janela.

Voltando à sala de aula, quanta coisa oculta se transmite aos alunos! Quantos professores não percebem que, em sala de aula, devemos todos representar o grande papel de orientadores do processo de ensino-aprendizagem, nos despindo de nosso eu e vestindo e incorporando um personagem que representa com a realidade! O professor é o responsável pelos maiores monólogos há historia da humanidade. Na modernidade, esses monólogos são interagentes com suas platéias. Não posso sair de casa como o cidadão Alessandro Amorim e entrar em sala de aula como Alessandro Amorim; preciso vestir o figurino do personagem Professor Alessandro. Preciso ter a responsabilidade e a consciência de que meu currículo oculto pode ser irrelevante ou até mesmo descartável para minha platéia. Não sou um intelectual, muito menos um anti-intelectual (o sábio que não quer ouvir), mas sei que minha palavra é ouvida em sala de aula. Tudo o que o professor diz corre o risco de ficar incutido na mente dos alunos (aliás, este é o objetivo) e, se algo de ruim for transmitido, pode influir para sempre na vida de um jovem. Como dizia o cantor e compositor Lobão, “... e quem é que vai pagar por isso?”

Retornando mais uma vez à (des)informação da (anti)intelectual Marilena Chaui, podemos pensar na hipótese de enviar a ela, cópia de um trecho da entrevista do sociólogo Francisco Oliveira, também à revista Veja, quando disse: “O PT resolveu chegar ao poder de qualquer maneira. Por isso, aderiu ao jogo político tradicional e foi comido pelo jogo político tradicional. Na medida em que um abre mão de princípios para ser presidente a qualquer preço, outro para ser deputado, outro para se eleger senador, a história do partido se perde. Cabe a nós, intelectuais, fazer a critica...”

Cabe a nós também, pobres mortais, ao contrário do cânone da filosofia nacional, nos informar mais e mais. O resultado dessa busca por informação será, pelo menos, a capacidade de digerir, aproveitar e transformar o que é útil e descartar o resto de tudo o que querem nos empurrar goela abaixo.

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