quarta-feira, 11 de maio de 2011

Ensino De Língua Inglesa: Cuidado Com A Promessa De Uma Pronúncia Perfeita

Estava pesquisando outro dia, na Internet, sobre sites de ensino e divulgação da língua inglesa, quando encontrei uma Home Page de um curso em Minas Gerais, onde se anunciava que naquele curso os alunos aprendiam uma pronúncia perfeita da língua inglesa, porque tinham aulas com professores americanos.





Fiquei intrigado com tal afirmação. O que seria a anunciada pronúncia perfeita? O que é pronúncia perfeita? Quem disse que os alunos que têm contato e aulas com professores americanos adquirem uma pronúncia perfeita? O que é e qual é a pronúncia perfeita? Quais os padrões ou critérios utilizados para que se chegue a tal afirmação? Ainda que sejam os norte-americanos que digam que sua pronúncia é perfeita, quem disse que a pronúncia deles é perfeita? Será que eles esqueceram que o idioma que eles falam, ainda que tenham se beneficiado tanto dele – como dizia Michel Foucault em sua Teoria das Relações de Poder baseado no discurso - não os pertence?





Como professor, estudante e amante das Línguas inglesa e Portuguesa, que sou e sempre serei, não pude deixar de reparar nesta afirmação. Volto a perguntar: o que é a pronúncia perfeita? Qual é a pronúncia perfeita de algumas palavras da língua portuguesa, tomando por base apenas o Brasil?






Acho que, como professores de inglês, nós devemos tomar muito cuidado com tais afirmações, pois, ainda que tomemos por base a pronúncia americana, qual seria a região daquele país tomada por padrão? Sabemos que, assim como o Brasil, os Estados Unidos têm proporções continentais e, linguisticamente, enfrenta a impossibilidade de manter um único padrão linguístico-fonético; basta que se perceba o sotaque e a pronúncia de um texano e de um nova-iorquino falando, para citar um exemplo básico. Qual dos dois tem a pronúncia mais correta?






Falemos dos países que têm língua inglesa como idioma oficial. Suas pronúncias são perfeitas? Sim? Baseado em que se afirma isso? Não? A mesma pergunta se repete.






Desculpem-me, colegas de profissão, mas tal afirmação, saindo de professores de inglês brasileiros, chega a ser absurda. A pronúncia perfeita é e sempre será a regional, não importando qual seja esta região. Falo de competência e desempenho linguísticos.
Em tempo, não estou, em hipótese alguma, criticando métodos de ensino, pois “só se critica o que se conhece”. Tampouco estou levantando dúvidas quanto a eficiência do curso em questão. Como educador também tenho minhas ambições, anseios e ideologias e concordo que não se aprende um idioma estrangeiro em pouco tempo. Apenas não aceito que brasileiros e professores de inglês, como eu, por mais que tenham passado anos nos Estados Unidos – não sei -, aceitem que a verdade deles é a verdade do mundo e, mais ainda, preguem que a pronúncia deles – generalizada – seja a perfeita. Se algum de nós tivesse que eleger uma pronúncia perfeita da língua inglesa, bonita ou não aos nossos ouvidos, sem dúvida, esta deveria ser a pronúncia padrão de Londres e/ou de Oxford, mas nem por isso e nem assim a pronúncia britânica em seu todo poderia ser considerada a pronúncia perfeita, pois sabemos que lá também existe uma coisa chamada Variação Lingüística, e que nem mesmo o menor dos paises está – graças a Deus, para quem acredita nele – linguisticamente livre disso.





Uma boa ilustração para este fato é o livro de Michael A. Jacobs, “Como Não Aprender Inglês“, que traz várias situações sobre o ensino e o aprendizado do idioma. Outra boa comparação e o livro “How To Be An Alien”, de George Mikes, um húngaro que foi viver na Inglaterra e percebeu que, para aprender realmente um idioma, deve-se viver o idioma. Mesmo assim, um húngaro jamais terá a mesma pronúncia que um inglês.