sexta-feira, 19 de junho de 2009

LINGUA ESTRANGEIRA X LINGUA MATERNA: Uma questão de interdependência.

A língua inglesa, assim como a língua portuguesa e tantas outras, possui sua gramática normativa e, com ela, um enorme conjunto de normas do “bem escrever”, as quais os alunos devem aprender para sua “correta” utilização.

O fato de que a gramática de um idioma não interfere na gramática de outro é quase um consenso entre os estudiosos de línguas, mas é certo, também, que o conhecimento sobre um idioma influi sobre o ensino e o aprendizado da outra.

Observando, desde os tempos da graduação, amigos de classes e professores de língua inglesa, pude perceber que, muitas vezes, estes apresentavam dificuldades ao tentar explicar determinados temas na língua inglesa, por não dominarem seus correspondentes na língua portuguesa. Sem um pilar (inicial) para sustentar seus conhecimentos, os professores incorriam em um problema sério: como fazer um aluno entender algo sem ter – o professor – uma base sólida para apoiar sua argumentação?

Um tópico, como exemplo, da língua inglesa, que é chamado de “relative clauses”, forma-se com a utilização dos pronomes relativos. Pronomes estes que podem assumir diferentes funções sintáticas nas frases. Quem não se lembra das enfadonhas “Funções do QUE”, da Língua Portuguesa?

Se o professor não tem conhecimento sobre estas questões na língua materna, como poderá explicar as questões de elipse do pronome relativo na língua inglesa, fato este que depende diretamente da função sintática que o referido pronome relativo apresenta em determinadas sentenças?

Como existe hoje um enorme número de professores de língua inglesa nas escolas – inclusive professores graduados em outras áreas, mas que foram “forçados” a ocupar o lugar de um professor de língua inglesa por causa da falta de professores na rede pública, torna-se mais fácil encontrar elementos que possam ratificar as hipóteses apresentadas, visto que o corpus do trabalho em questão é o próprio meio profissional.

“A influencia do conhecimento de Objeto Direto, em suas diferentes características e aplicações na língua portuguesa, no ensino de tópicos que envolvem o Objeto Direto na língua inglesa, em escolas públicas de ensino médio regular” é apenas uma delimitação de um tema, cuja pesquisa apresenta diversos objetivos. Porém, a questão principal é: É realmente necessário ter amplo conhecimento sobre a língua materna para o ensino de uma língua estrangeira?

Um professor de língua estrangeira que não domina questões específicas de língua materna tem condições de ensinar adequadamente questões correspondentes da língua estrangeira?

Tomando por base as próprias observações e conversas prévias com professores de língua inglesa (graduados ou não em Letras Inglês), pude constatar que muitas vezes existe, de fato, certa deficiência no conhecimento sobre a língua materna – no que diz respeito à Gramática Normativa – com relação à sintaxe (especificamente, sobre os Objetos), fazendo com que, muitas vezes, os alunos apresentem grandes dificuldades para o entendimento das já mencionadas “relative clauses” na língua inglesa, assim como em vários outros tópicos que envolvam o objeto naquele idioma.

Muitas vezes os professores só se dão conta de que têm certas deficiências na língua materna quando são confrontados com questionamentos – não previstos – por parte dos alunos que, a cada geração, se tornam mais críticos – fato que alguns professores ainda se negam a enxergar.

A resposta para o problema poderia ser uma outra pergunta: Como pode um professor, com toda a relevância social que a profissão exige, querer, tentar e, de fato ensinar as estruturas de uma língua estrangeira, se este não domina as estruturas de funcionamento de sua própria língua?

Portanto, coloco que, para o ensino de uma língua estrangeira, é indispensável que o professor se valha de um conhecimento adequado da língua materna, sejam quais forem a L1 (língua materna) ou a L2 (língua estrangeira), pois não se pode conceber alguém se propor a ensinar uma língua estrangeira sem sequer saber sua própria língua. Como, na escola pública, a língua portuguesa funciona como mediadora do ensino de língua inglesa, é imprescindível que este professor conheça a língua portuguesa, para poder utilizá-la como instrumento de mediação, comunicação, comparação e embasamento, ou seja, como seu pilar inicial, já mencionado anteriormente.



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